terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sobre quem respeita meus fones de ouvido

Trilha sonora pra esse texto: clique aqui


Assim como outras muitas histórias começaram nesse dia, esta história também se iniciou no dia 15 de Fevereiro de 2003, o dia que determinou parte dessa minha existência, parte da minha caminhada, parte da minha felicidade. Foi nessa manhã de sábado que a conheci.
Estava começando a dar aula nessa escola. Era meu primeiro semestre lá e apesar de já conhecer todos os professores e dominar o método, os alunos seriam novos e isso até hoje, mesmo depois de tantos anos na profissão, é algo que me deixa apreensiva. Lembro que minutos antes de entrar na aula, perguntei sobre os alunos pra professora que os havia lecionado no semestre anterior. Ela me respondeu: “Essa classe é muito boa e tem a Mari-go-to-hell, muito engraçada, você vai adorar ela.” – Sim, foram essas as primeiras informações que recebi da criatura.
A turma era realmente muito boa. Já haviam se formado e o semestre que estudariam comigo seria apenas uma espécie de extensão focada em prática e fluência no idioma (Inglês, no caso). Ela chegou atrasada no primeiro dia de aula. Entrou com cara de sono (a mesma até hoje), cabelo azul e tatuagens nos ombros. Feitas as apresentações iniciais, ouço uma conversinha lá do fundo da sala e logo em seguida, o memorável “Ah meu, go to hell!!!” seguido de um “Sorry, teacher”  – Essa era a menina de quem haviam me falado. Sim, gostei dela. Gosto de gente engraçada.
O semestre correu tranquilo, divertido e desafiador. Precisávamos apresentar uma peça teatral pra escola toda e o fato de já serem formados trazia uma responsabilidade maior. Seria filmado e avaliado como um “TCC”. Os alunos escreveram o roteiro, escolheram o figurino, trilha sonora e montaram o cenário. Foi o meu primeiro trabalho com teatro e pela primeira vez dirigia uma peça.  E foi no dia dessa apresentação que a gente se viu pela última vez como aluna/professora. Dissemos ‘goodbye’ e seguimos nossas vidas. Ela, uma menina, começando uma universidade, falando inglês lindamente e cheia de planos pra vida. Eu, uma jovem professora, casada, promovendo baladas pra um público alternativo, vendo filmes de arte e pensando no que fazer pra janta.
Daí, THANK GOD, vieram as massificações das redes sociais. Orkut e blogs. Muitos. Uma explosão pré-facebookiana, quando começamos a entender que tudo o que o queríamos era saber da vida do outro. Nos adicionamos, nos lemos, nos observamos de longe-perto, como 99% das outras pessoas que fazem parte da nossa rotina online. E desde sempre, eu gostava daquele jeito espontâneo de falar da vida, de opinar, de falar mal, de rir. E de nunca esconder nada. Meus perfis são sempre trancados, desde o falecido ‘leio, respondo e apago’ até hoje. Toda a minha vida social/virtual é restrita às pessoas que eu escolho ter acesso a ela. Os perfis dela, lógico, são abertos. Go to hell é assim, um estado de espírito livre. Porque ela bate no peito e fala ‘hoje eu vou à marcha das vadias e que se foda’. Não é à toa que hoje somos o que somos. Eu precisava muito dela pra também bater no peito e dizer que se foda. E não me sentir culpada por isso. Daí que um dia, no Twitter, tudo aconteceu (de longe, nossa rede social preferida). Eu lia aquelas coisas que ela postava e pensava o quão éramos parecidas. E começamos a interagir. Até que fui tirar uma dúvida com ela e ela me respondeu: “Vem comigo que é só vitória”. E foi. E tem sido. E será se o universo quiser.

Por quê? Bom, porque ela é uma das poucas pessoas que respeitam meu silêncio, meus fones de ouvido, meus pensamentos e minha filosofia. Porque ela também é uma viajante individual, porque ela também ama Madonna, café, museus e a Rua Augusta. Porque discutimos qualquer tema, opinamos, argumentamos e rimos. Muito. O tempo todo. Porque ela também procura por praias desertas, trilhas escabrosas e cachoeiras geladas. Porque somos antagônicas em algumas coisas e isso é divertido. Ela é corintiana - coitada e eu são paulina - tricampeã mundial. Ela chama meu ídolo de ‘viadinho’ e não acredita em Deus. Mesmo assim assiste aos jogos comigo e me ouve falando de Espiritualidade por horas sem reclamar. Porque é pra ela que eu mando as minhas localizações todas as vezes que estou em alguma situação de risco. Porque a gente ama tomar Frozen Yogurt na Paulista. Porque ela tem as tatuagens mais lindas que eu já vi. Porque a intuição dela é do caralho, e eu juro que da próxima vez que ela disser ‘sai fora, é furada’ eu a ouvirei. Porque temos, taciturnamente, um acordo de não reclamarmos da mesma coisa por muito tempo. Ou aceitamos ou mudamos. Porque ela não tem TV, lê Saramago comigo e não liga se eu dormir no meio dos filmes. Porque ela me ensinou a fazer trilha, a procurar os Buritis, a amar açaí. Porque quando mais precisei, ela me colocou dentro das suas malas, me levou de férias pro berço do meu recomeço e me ajudou a resolver as merdas que eu havia me metido. Porque ela costura. Porque ela pega todos os bichos que encontra pelo caminho e os cria dentro do seu apartamento de um quarto. Porque ela é vegetariana e impõe limites no meu cardápio hyper-junkie. Porque somos permissivas. Porque a gente se mete a modelo e aceita fazer ensaios pseudo-lésbicos pra amigos fotógrafos. Porque ela é mestre de Yoga e me ensina a respirar. Porque ela me manda mensagem perguntando como faz ‘tudo’. Porque a gente canta o Hino Nacional sempre que estamos juntas (?). Porque ela canta e dança as músicas da MC Carol. Porque andamos quilômetros e quilômetros em todos os lugares que visitamos. Muitas vezes em silêncio. Muitas outras apenas cantando. Porque ela é a pessoa que eu mais amo fotografar e a única pessoa com quem mantenho um blog (não o divulgamos, sorry). Porque eu nunca preciso pedir pra ela não contar minhas coisas pra ninguém. Porque ela guarda meus segredos, me empresta seus batons maravilhosos da MAC e me dá sapados de presente. Porque ela me chama de diaba, velho, mano, ow, bixa, cara, e o meu preferido, ‘tio’. Porque todas as vezes que eu digo que a amo, ela me responde ‘problema seu’. Porque juntas, a gente aprende, evolui e progride.

Porque ela é foda.
Feliz Aniversário, irmãzinha. Te amo – Tá, eu sei, problema meu.



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