Certo dia li uma matéria sobre o saudoso Tele Santana, a
quem eu, amante do futebol não poderia deixar de admirar pela brilhante
historia e alegrias que trouxe a mim e a toda a minha família por todos esses
anos. O admirava pelo trabalho que fez, pelo legado que deixou ao partir. Porém,
naquela matéria que eu perdi em algum lugar nessa bagunça virtual, pude
perceber que havia algo a mais a aprender. Nesse dia, lia com o intuito de me
distrair, tamanha dor que sentia ao ser confrontada com minhas maiores
fragilidades e sem querer entendi o que eu tinha que fazer.
Ele contava que ao ganhar um dos gloriosos títulos, um dos
dirigentes do clube em que trabalhava viera cumprimenta-lo pelo campeonato logo
após o final do jogo. Tele Santana, sorriu e agradeceu com a cabeça. Uma das
pessoas ao seu redor perguntou-o porquê ele não retribuíra o cumprimento no
mesmo nível de emoção e mais, por que ele não estava comemorando. A resposta
foi simples e direta: porque é assim que eu estaria se eu tivesse perdido o
campeonato, mas essas pessoas não estariam me abraçando tentando me confortar.
Sorrir e agradecer com a cabeça. Foi isso que eu fiz. Pra tudo.
Para todos. Em todas as situações em que me encontrava. Sorrir porque é minha maior característica e agradecer, minha maior virtude. Eu agradeci todos
os passos que dei.
A minha vida é a minha estrada. Nessa estrada eu sempre
conduzi o carro, eu sempre escolhi as pessoas que estariam dentro dele, durante
aquele trecho, ao longo daqueles quilômetros. Porque são essas as pessoas que
me ajudariam a me encontrar. Pessoas com as quais convivemos tem a única função
de nos fazer enxergarmos a nós mesmos. E foram centenas de pessoas até então
que eu conduzi e que eu escolhi estar comigo.
Até a hora que eu virei uma passageira no carro de alguém.
Até a hora que eu dei permissão pra alguém conduzir junto comigo, dividindo os
trechos, me deixando levar quando necessário, e me levando quando eu precisei. E
somos isso. Condutores de um carro só. Passageiros de nós mesmos. Alguém que
conduziu na noite escura e fria, sozinho, acordado, apenas pra que eu pudesse
dormir em paz sem saber da tempestade de neve que ameaçava a nossa viagem.
Alguém a quem eu dirigiria até o final do continente pra mostrar um por do sol
e deixaria sentado ao meu lado só pra sentir o seu cheiro doce e ouvir sua voz
cantando pra mim. Somos condutores de nós mesmos. Sorrimos e agradecemos.
Choramos e lutamos. Enfrentamos estradas duras, cheias de buracos e vazios,
cheias de obstáculos e pavimentos antigos. Furamos o pneu uma vez. Mas juntos o
trocamos. Vencemos esse primeiro trecho.
Nesse momento, alternando a direção, colocando passageiros
no banco de trás, escolhendo os momentos certos pra avançar mais passos. Eu
estou perdida. Encontro-me no banco de passageiro, fotografando pela janela,
olhando pra ele focado na direção e vendo qual caminho queremos seguir. Não
importa pra onde estamos indo. Não importa pra onde ele está me levando agora.
Não importa pra onde eu o levarei no próximo trecho.
Estamos no mesmo carro e a
nossa estrada é cheia de luz.
Que a vida nos dê passagem.
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