Sobre as Trilhas para Principiantes
Então você descobre que gosta de fazer trilhas. Isso (bem)
depois dos trinta anos de idade, quando seu condicionamento físico já não é tão
a favor de aventuras de risco e seus pulmões têm a força de um patinho amarelo de
borracha, daqueles que a gente brinca numa banheira (num ofurô, no meu caso). Meu
treinamento consiste em alguns quilômetros de corridas-trotinho na esteira da
academia, caminhadas subindo e descendo a Rua Augusta e idas até o chão nas
pistas de dança da vida – forninho eu não carrego não, meus amigos. Sou phynna.
Este é um relato de alguém que decidiu fazer depois dos
trinta, algo que deveria ter feito aos vinte anos de idade. Nessa idade, a
única trilha que eu fazia era nos jardins escondidos do Central Park. Quem
conhece o lugar sabe que tipo de aventura encontramos nesses remotos
anti-turísticos e apaixonantes cantinhos fora do óbvio.
Comecemos pelo óbvio. Como escolher a trilha? Se você é um
principiante, pesquise tudo o que puder ANTES de fazer qualquer loucura. Veja
se dá pra aguentar, se é íngreme, quanto tempo uma pessoa normal leva pra
chegar ao destino (geralmente quem alimenta sites sobre dicas de viagem é
alguém altamente treinado pra esse tipo de esporte, então se a pessoa diz que
levou 2 horas pra fazer a travessia, você vai levar 5), qual o destino (porque
a compensação é exatamente o motivo de se fazer uma trilha) e se não tem muita
farofada ou gente com camiseta estampada de Romero Britto cruzando seu
caminho.
Mochileiros e Trip Advisor continuam sendo os melhores sites pra
pesquisas.
Eu não pesquisei na minha primeira trilha e um passeio ao Rio
Aquidauana, Pantanal sul-mato-grossense, acabou virando uma trilha de 3 km
dentro da mata fechada, atravessando vazantes e enfrentando uma tempestade
tropical. Traumático? Nem um pouco. Os tucanos, as araras, a água gelada do
rio, as chalanas, a boiada branca correndo nos vastos campos das imensas
fazendas que atravessamos e até o pavor das piranhas fazem parte de uma das
memórias mais lindas que tenho.
Depois disso, voltei às trilhas com muita
precaução, pesquisa e preparação. Aprendi a montar uma mochila útil para a
atividade, (na primeira trilha levei até nécessaire com make), me condicionei,
perdi peso e comi muita cenoura e beterraba - nada melhor pra voltar com aquele
bronzeado-molho-shoyu pra São Paulo sem ter que gastar um absurdo com
bronzeador importado.
Sem mais delongas, e tentando ser o mais objetiva possível
(sou geminiana, sorry), vamos ao que interessa. Já sabe aonde vai? Lembre-se de
que, se for pra cachoeira, não vá no período de chuvas, ou você não vai entrar
em nenhuma. Se for pra praia, evite alto verão. Além de cheio, é caro. Trilha
boa de praia é no inverno. No verão
brasileiro, vá às trilhas no inverno canadense. No inverno brasileiro, corra
pras trilhas de Punta del Este. No
outono? Trilhas urbanas em jardins – sim, fiz uma em Curitiba de 1 km e meio.

Vamos lá. Comece com trilhas de um dia, porque acampar já é
nível intermediário/avançado. Vista-se com shorts, camiseta e se não tiver
‘walking boots’, tênis de corrida servem. Leve uma mochila com proteção
térmica. Tanto pra uma trilha com sol, chuva ou neve, a proteção térmica é
importante. Leve duas garrafas de água de 500 ml cheias. Se for pra cachoeira,
leve duas a mais vazias, a volta é sempre subida e a sede é mortal. Se for pra
praia, não haverá água potável lá (se tiver água pra vender lá, oops, você não
está numa praia deserta, escolha mega-fail). O ideal é não ir sozinho pra trilhas
de praia, pra poder levar o maior número de garrafas d’água possível. Frutas
secas, castanhas e maçãs frescas. Barra de proteína, mini kit
primeiros-socorros, uma canga/toalha e chinelos. Repelente, carregador portátil
de celular, bússola, protetor solar, um canivete e farolete. Pelo
amor de Deus, se não conhece o lugar e não sabe se virar no meio do mato,
contrate um guia local. A não ser que você queira se perder e passar uma noite
sendo devorada por mosquitos, morrendo de fome ou tentando não ser comida por
uma onça. Não, não é porque você assistiu Lost que você vai saber como
encontrar o caminho de volta. Você não vai. Isso é sério. Enrole seu celular em
plástico filme. Vai por mim.
Agora vai, divirta-se e perca suas celulites. Trilha não
combina com bebida alcoólica e cigarro, música alta e conversinha. Chegando lá,
faça o que quiser. Mas lembre-se que tem que voltar, então não abusa.
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